Prevenir com equilíbrio
Lembrando que a promoção da saúde passa pela escolha de estilos de vida saudáveis em que se integram cuidados com a alimentação e a prática de alguma actividade física, não fumar e beber álcool de forma moderada, a médica especialista em Medicina Interna Judite Henriques esclarece que a medição da tensão arterial (TA) e a mediação do colesterol, à semelhança de outros exames clínicos, devem ser feitas com ‘peso e medida’. A primeira deve ser feita de dois em dois anos ou quando se justificar. A segunda, de cinco em cinco anos, nas mulheres com mais de 45 anos (nos homens é mais cedo, depois dos 35 anos de idade).
A médica enumera os procedimentos recomendados, sem factores de risco acrescidos, para mulheres assintomáticas.
O rastreio do cancro da mama é um deles. Explica que “a partir dos 40 anos, aumenta o balanço benefício/risco da mamografia – toda a intervenção tem um risco associado”, e que esta se poderá realizar desde que a mulher seja informada desta equação. O doente tem direito a ficar esclarecido neste sentido. Para mulheres dos 50 aos 69 anos, “a recomendação do Plano Nacional Oncológico vai no sentido de se fazer uma mamografia de dois em dois anos, como método de rastreio”, acrescenta, esclarecendo que, bem pelo contrário, “não existe razoável evidência” para o aconselhamento do auto-exame da mama com essa mesma finalidade. “É muito difícil para a pessoa perceber o que está a apalpar” e, nesse sentido, qualquer pequena alteração que nada significa pode ser geradora de grande angústia e ansiedade.
O rastreio do cancro do colo do útero é outra medida preventiva a levar em conta. “Dois a três anos após o início da vida sexual, a mulher deve fazer uma citologia cervical, e depois, a cada três anos, duas citologias consecutivas normais”, explica a especialista de medicina interna, esclarecendo que esta neoplasia tem vindo a aumentar em mulheres com antecedentes deste tipo de cancro, imunossupressores e com infecção por VIH.
O último rastreio é o do cancro do cólon e recto, que “deve ser feito a partir dos 50 anos, até aos 75 anos”. De acordo com a médica, o cancro do cólon é uma neoplasia com grande incidência em Portugal. Está igualmente indicada a pesquisa de sangue oculto nas fezes em cada um a dois anos. A colonoscopia, realizada de cinco em cinco anos, é o exame que permite visualizar todo o intestino e fazer biópsias, e, se for o caso, a excisão da lesão. Ainda que possa ser pouco doloroso, apresenta grande “incómodo”, pelo que há quem hesite em fazê-lo. Pode ser feito com sedação, mas esta não é comparticipada pelo Sistema Nacional de Saúde (SNS) e torna-se dispendioso. Vale o esforço económico, pois “a possibilidade de diagnosticar e excisar a lesão antes de ser neoplásica” não tem preço. São métodos alternativos a rectosigmoidoscopia, a colonoscopia virtual (por TAC), a colonoscopia total (a realizar de 10 em 10 anos).
A visita periódica ao dentista de seis em seis meses é uma das mais importantes dentro das consultas de especialidade, mas que a maioria dos portugueses também não cumpre. Não há uma educação nesse sentido, embora também pese a fraca participação dos sistemas de saúde nestas despesas. No entanto, mais uma vez, é uma prática “rentável”, assegura a especialista em Medicina Interna, pois os problemas com os dentes podem dar origem a má audição, cefaleias, entre muitos outros, e no limite “originar uma endocardite, quando o micróbio provocado pela infecção entra num vaso sanguíneo e vai ao coração”.